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O Diário de Sebastian



Viena, 22 de Novembro de 1911


Prezada Sra. Morgan...
Como prometi no funeral de Sebastian, envio as poucas páginas que consegui encontrar do diário de seu filho. Como eu já havia informado naquele triste e doloroso dia, muitas páginas foram arrancadas bruscamente e me foi impossível encontrá-las entre os pertences de Sebastian... Acredito que ele mesmo se encarregou de fazê-las desaparecer.
A princípio desconhecia o motivo que levou um rapaz tão sereno e tranqüilo a agir de uma forma tão compulsiva e estranha. Durante os dois anos que moramos juntos, compartilhando aquele antigo sótão, passando noites em claro estudando para as provas de seleção, confessando os segredos mais sombrios de nossos corações... Nunca demonstrou algum tipo de perturbação, jamais evitou minha presença e nunca vi um resquício sequer de medo em seus olhos, exceto em seu último mês de vida.
Em poucos dias, Sebastian tornou-se calado e taciturno, com o olhar perdido, triste, distraído, escondendo-se da luz do dia e de seus companheiros, até mesmo de mim que me tornei uma testemunha silenciosa de sua queda inevitável e desesperada. Sebastian me havia feito prometer que jamais diria a ninguém sobre seu verdadeiro estado, disse-me que sua vida estava em perigo e que uma só palavra minha a esse respeito, poderia por tudo a perder. Senti tanta dor e angústia em sua voz naquela tarde de outono que apesar da minha relutância em obedecer àquela loucura, e temendo por sua vida, prometi que não escaparia de meus lábios, uma só palavra.
Sra. Morgan espero que me compreenda e que não me despreze ou me culpe por não alertá-la da loucura repentina de seu filho. Contudo, sua morte me liberta dessa promessa e eu posso finalmente relatar o ocorrido durante aqueles dias.
Talvez me tome por um mentiroso, mas posso lhe garantir que aconteciam coisas realmente estranhas que me assustava. Diziam que Sebastian freqüentava os círculos boêmios da cidade e foi visto andando sozinho à noite, conversando como se alguém o acompanhava. Eu mesmo, certa vez, pude testemunhar esse fato.
As últimas noites foram piores...
Chegava altas horas da madrugada como se estivesse sob o efeito de alguma droga alucinógena, incapaz de reconhecer-me, parecia que seus olhos me atravessava com suas pupilas dilatadas. Deitava-se em seu leito e murmurava constantemente, com voz áspera e grave: - Me dê a mão, me de a mão...
Sentei-me a seu lado muitas vezes tentando reanimá-lo, mas era uma tarefa árdua e impossível. Quando, finalmente ele adormecia, voltava para minha cama na tentativa de conciliar o sono. Em várias ocasiões despertei ouvindo uma voz feminina, suave, sussurrante. Parecia estar ao lado de Sebastian, mas, não havia ninguém além de nós dois.
Ele estava apaixonado, não tinha a menor dúvida quanto a isso. Entretanto, jamais falava dela, exceto em seu diário e às vezes em sonhos. Comecei a segui-lo em algumas ocasiões, sem poder conter minha curiosidade de conhecer a jovem que o havia enfeitiçado daquela maneira. Não vi ninguém.
Sebastian assistia a uma palestra de filosofia antiga, sorria muitas vezes, olhando para um lugar vazio, falava e gesticulava como se alguém o estivesse acompanhando. Isso me fez acreditar que ele estava perdendo a razão, até que depois de sua morte, pude ler em seu diário.
Sra. Morgan creio que deve ser a senhora mesma a julgar o que aconteceu durante aqueles dias, mas a única maneira de poder entender realmente esses fatos é lendo o diário de seu filho.

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Diário de Sebastian

                                                       

Viena, 9 de Outubro de 1911

Hoje a vi pela primeira vez e espero que não seja a última.
O dia foi tão cansativo na faculdade, que decidi passar o resto da tarde passeando tranquilamente pela cidade. Mas ao passar por um dos bairros de artistas boêmios, vi um anúncio em um cartaz amarrotado e sujo, de uma palestra interessante sobre filosofia contemporânea. A idéia agradou-me instantaneamente, entrei em um local escuro, onde um homem de idade avançada, barba grisalha e um casaco rasgado, palestrava usando termos ridiculamente pedantes aos poucos ouvintes que ali permaneciam.
Ao ver-me, o velho franziu a testa, ofendido, esperou até que eu me sentasse para então continuar com seu enfadonho discurso.
Depois de alguns minutos ouvindo-o citar incorretamente autores e teorias absurdas, não pude evitar que um sorriso de lástima se formasse em meu rosto ante aquele lamentável esforço por mostrar alguns conhecimentos errôneos. Estava prestes a me levantar e deixar aquela sala, correndo o risco de ofender novamente aquele grande palestrante, coisa que me daria um imenso prazer, quando notei uma moça de longos cabelos castanhos, sentada algumas fileiras a minha frente, fazia esforço para conter o riso. Voltou-se para mim, como lendo meus pensamentos e me brindou com o mais belo sorriso que eu jamais havia visto. Devíamos ser as únicas pessoas capazes de desmascarar aquele patético personagem, pois o resto dos participantes permaneciam admirados e boquiabertos. Esperei então, até o final do discurso, com a esperança de poder me aproximar e convidá-la para tomar um café.
No entanto, quando todos se levantaram, aplaudindo e parabenizando aquele velho decrépito, ela havia desaparecido. Procurei em vão, era como se a escuridão tempestuosa daquela noite a tivesse tragado.
Pensativo, voltei para casa sob a chuva suave que começava a aumentar. Pedro, meu companheiro de quarto, estudo e bebedeiras, está trabalhando em sua tese, por isso não o irei incomodar para contar sobre a minha pequena experiência.
Não consigo parar de pensar nela...
Seu sorriso...
Amanhã, voltarei àquele local, preciso vê-la novamente.

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Viena, 14 de outubro de 1911

Depois de quatro dias desesperado, finalmente a encontrei!
Toda noite rumava para aquela tediosa conferencia sobre filosofia, em que o mesmo velho sarnento se empenhava em mostrar sua mais completa ignorância. Mas ela não estava lá.
Hoje voltei mais uma vez, pensando em abandonar minha busca e dar-me por vencido se não a encontrasse. Mas os Deuses foram bondosos comigo e recompensaram meus esforços... Desta vez, era ela que estava atrasada, interrompendo por um momento aquela esfarrapada teoria sobre a existência do livre arbítrio. Levantei-me sem me dar conta, ignorando os resmungos do palestrante. Ela me sorriu antes de sentar-se, desta vez bem à minha frente.
O tempo me parecia eterno enquanto esperava impaciente o final do discurso. Meus olhos se perderam em seus longos cabelos e no contorno de seus pálidos ombros. É realmente uma criatura celestial.
Finalmente, eu poderia falar com ela pela primeira vez. Sua voz é tão suave, seus olhos azuis, profundos como o oceano, insondáveis, melancólicos...
- Estive te procurando...
- Eu? – Ela fingiu surpresa, mas o sorriso malicioso em seus lábios denunciava que ela sabia.
- No outro dia, quando riu dos ridículos comentários daquele palestrante, enquanto os demais permaneciam sérios, me pareceu estar diante da única pessoa inteligente naquele local.
Seu sorriso tornou-se mais amplo.
Caminhamos lentamente pelos becos daquele bairro mal iluminado pela luz fraca dos poucos lampiões que ainda restavam naquele lugar.
O silêncio da noite era quebrado às vezes pelo miado plangente de um gato de rua ou pelas vozes tremulas das canções de alguns bêbados.
Fiquei admirado pela beleza e pelos conhecimentos daquela jovem misteriosa. Ela é capaz de falar durante horas sobre filosofia clássica, literatura, arte ou qualquer tema. Sentados em um velho banco de madeira, passamos horas conversando, como se o tempo não existisse, rindo e confessando nossos segredos, parecíamos amigos de uma vida inteira.
Quando os primeiros raios de sol surgiram, anunciando o nascimento de um novo dia, ela começou a ficar impaciente e assustada.
- Tenho que ir.
- Onde?
-Não me pergunte nada, apenas me dê sua mão.
Eu a olhei perplexo sem entender seu medo.
- Me dê sua mão – Repetiu sussurrando –Me dê sua mão...
Não me lembro de mais nada, apenas do toque de sua pele fria.
Esta manhã acordei em meu quarto, um pouco atordoado e com uma forte dor de cabeça que me impedia de pensar com clareza. Não me lembro de como cheguei aqui... Mas a única coisa que realmente importa é que sua bela imagem continua desenhada em minha mente.

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Viena, 20 de outubro de 1911

Pedro está preocupado comigo ultimamente. Talvez seja por causa da minha extrema palidez e a magreza excessiva do meu corpo, esses dias andei perdendo bastante peso. Não faço mais que explicar que tudo é devido à tensão dos estudos e as poucas horas de sono, o que me faz perder o apetite e estar constantemente nervoso.
Tenho que mentir. O que mais posso fazer?
A verdade é que ela está me consumindo, como se ela se alimentasse todas as noites da minha alma. Desconheço todo seu passado, até mesmo sua vida atual, nem sequer sei seu nome... Ela, porém, conhece tudo de mim, detalhes que não me recordo de ter-lhe dito, quase me atrevo a jurar que ela sempre esteve ao meu lado, como se fosse um anjo a velar por mim... Ou, um demônio...
Não consigo parar de pensar nela, em todos os momentos, as horas me parecem lentas e tediosas durante o dia, espero ansioso pelo anoitecer e então poder desfrutar da sua deliciosa companhia.
Esses últimos dias sequer tive forças para ir à universidade, fiquei nesse quarto, dando voltas, me sentindo preso como um animal selvagem, nervoso, fraco. A única distração que tenho é escrever nessas páginas a angústia que se apoderou do meu ser.
Ah, ela é como um anjo, um anjo das trevas...



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Viena, 22 de outubro de 1911


Estou assustado!
Ela não é humana, agora tenho certeza. Mas... Quem é? O que é?
Tenho a alma cheia de sentimentos contraditórios. Uma parte de mim deseja sumir deste lugar, deixar essa cidade maldita e não mais retornar. Mas quando penso no brilho de seus olhos, no seu sorriso, me faltam forças e novamente, eu desisto. Um calafrio percorre minha espinha só de pensar nos estranhos acontecimentos da noite passada.
Como sempre nos encontramos no mesmo local e passeamos por entre as sombras protetoras das árvores do parque, com sussurros e risos contidos... O mundo deixa de existir quando ela está ao meu lado. Sugeri irmos a uma dessas cafeterias noturnas que estavam tão na moda entre os jovens artistas e assim poder estar com ela em um lugar onde me vissem com aquela mulher extraordinária.
- Não posso Sebastian. - murmurou, tentando sem sucesso, esconder o seu medo - Não gosto desses lugares... Tem muita gente.
Insisti, mas ela se negava constantemente.
- Você tem vergonha de mim? – inquiri um tanto irritado – Eu não sei nada de você! Nada! E jamais permite que me vejam ao seu lado, sempre devemos nos esconder nesses becos escuros... Por que se esconde tanto?
Ela estendeu suas mãos tremulas e geladas e acariciou meu rosto.
- Sebastian, não pense assim, se eu pudesse te explicar tudo, meu amor, se eu tivesse coragem suficiente para lhe contar... Mas isso nos separaria, e eu não iria resistir...
Senti seus lábios secos e frios sobre os meus. Seu rosto mostrava um tímido e tranqüilizador sorriso, mas, eu era capaz de ver o pavor brilhando em seus lindos olhos azuis.
- Se é realmente isso que você deseja, vamos à essa cafeteria.
Por um momento me senti tranqüilo e confortado, lembro que quando chegamos ao local, meu peito parecia que iria explodir de alegria e orgulho, apesar de que ela caminhava vagarosamente atrás de mim com seu belo rosto ligeiramente abaixado. Alguns grupos de jovens brindavam ruidosamente e discutiam entre eles os acontecimentos do dia com uma paixão incomum.
Sentamos-nos em uma mesa velha de madeira cheia de nomes e datas marcadas na superfície, deixando um registro de quem passava.
Pedi dois cafés e o garçom me olhou estranhamente, mas nada disse.
- Aqui se reúnem todos os tipos de artistas, desde pintores e poetas, a alguns loucos que acreditam poder resolver todos os problemas do mundo. – Disse a ele, olhando ao meu redor.
Esperei até que ele se retirasse, voltei a atenção para minha bela companheira e lhe confessei:
- É a primeira vez que venho a um lugar assim, e acho que não gosto!
Ficamos conversando, felizes por alguns minutos. Pouco tempo depois o garçom se aproximou trazendo o café e murmurou algo desconfortável em meu ouvido:
- Desculpe-me incomodá-lo, senhor, mas... Está falando com quem?
Surpreso, perguntei se ele não via a bela garota que estava comigo, fixei os olhos em alguns ocupantes de uma mesa próxima, que também me olhavam com uma expressão estranha em seus rostos. Era como se ninguém mais a visse.
Saí daquele lugar, sem pagar e sem dizer uma palavra, sentindo que me olhavam como se eu fosse um demente.
- O que está acontecendo?
- Sebastian...
A segurei pelo braço, nervoso e perguntei:
- Quem é você? – Supliquei por uma resposta. Ela me olhava com uma melancólica expressão em seu rosto, seus olhos me transmitiam uma profunda tristeza.
–Por que ninguém consegue te ver?
-Esqueça o que aconteceu, esqueça...
Deixei-me cair em desespero, cobrindo meu rosto com as mãos, desejando despertar daquele pesadelo.
- Me dê sua mão, Sebastian... Me dê sua mão.
- Não! Eu quero que você vá embora! Por que não me deixa? Por que simplesmente não volta para o lugar de onde veio? Não vê o que esta fazendo comigo? Não consegue ver que está me matando?
- Me dê a mão, querido, logo tudo isso acabará, eu te prometo. Por favor, a sua mão...
Estava à beira da loucura, já não suportava mais tudo aquilo, não conseguia colocar meus pensamentos em ordem, me sentia cansado, fraco demais para lutar com algo que eu sequer conhecia. Então, em prantos, lhe estendi a mão...
Despertei novamente em minha cama, com a terrível dor de cabeça de sempre, sem conseguir me lembrar de como cheguei até aqui.
Estou ficando louco? Isso é real? Ou é apenas uma invenção da minha mente doentia? Ela existe?
Um anjo das trevas...



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Viena, 24 de outubro de 1911


Infelizmente tive que obrigar Pedro a me prometer que não dirá nada do que está acontecendo. Sei que ele me seguiu durante algumas noites, preocupado e me viu conversando sozinho. Mas ela é tão real para mim. Não consigo compreender, ela tornou-se uma obsessão que...



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Viena, 30 de outubro de 1911


Depois dos últimos acontecimentos que relatei me sinto ainda mais possuído por ela, totalmente dominado por seus olhos e seu sorriso. Agora, sei que ela é um...



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Viena, 02 Novembro de 1911


Sei que meu fim se aproxima. Sinto o olhar frio da morte a me espreitar. Mas, não tenho medo. Só a morte poderá me libertar dessa condenação eterna. Minhas pernas apenas sustentam o peso do meu corpo, meus cabelos caem às mechas, ela esta me consumindo...
Pedro, já não sabe mais o que fazer. Passa o dia todo dentro dessa alcova comigo tentando me confortar, suplicando para que eu lhe explique o que está acontecendo, sem obter nenhuma resposta, ele então se desespera. Temo que leia esse diário, devo destruí-lo, ao menos em parte.
Ela me aparece até nos sonhos, me beija e jura que me ama. Sussurra todas as noites, próxima ao meu leito: “Dá-me sua mão...”



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Viena, 10 de Novembro de 1911


Esta noite a verei e lhe darei a mão.
Meu anjo das trevas me levará para o inferno junto com ela, é inútil resistir...
Esta noite...



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E assim termina seu diário. Só o que posso dizer é que ele não estava sozinho. Eu mesmo cheguei a ouvir aquela voz melancólica e sussurrante. E poderia jurar que durante seu enterro, um pouco afastada, vi uma jovem de longos cabelos castanhos me observando com um sarcástico sorriso em seu pálido rosto. Perturbado, desviei o olhar alguns segundos, mas quando olhei novamente, ela já não estava lá. Havia desaparecido.
Asseguro-lhe Sra. Morgan... Que seu filho não havia perdido a razão como muitos pensavam...
Ela existe, e, talvez seja o que Sebastian costumava dizer...
Um anjo das trevas.

Pedro
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O Preço da Vitória


O vi caminhando com o coração partido ao redor de seus edifícios em ruínas daquela antiga cidade. Um espectador silencioso observando seu próprio palácio destruído. Seus gritos desolados destroçavam o silencio. Somente eu podia ouvir sentir, acariciar seus sonhos já despedaçados. Minhas lagrimas eternas rasgavam a pele em meu próprio desespero embaixo de uma chuva de ideais mortos e pedaços de orgulho sem sentido. Eu o observava em sua grande derrota, enquanto ele experimentava o doce licor de seu próprio veneno. Cego, perdido em meio a sua delirante ilusão, seus desejos de ambição provocaram a guerra final, seus edifícios desgastados caiam a seus pés entre a bandeira rasgada e seu império destruído. Ruínas, esse era seu novo templo! Desviei o olhar, incapaz de suportar tanta destruição. Havia-lhe entregado minha devoção. Meus ideais foram pisoteados, a gloria perdida de um sonho compartilhado. Mas agora, diante de sua decadência, seus deuses o haviam abandonado, e entre gritos de dor, estendi a bandeira do triunfo, paguei com lágrimas o preço da vitória. Retirei-me com alma em pedaços e sumi na escuridão, de onde jamais pude regressar...
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Fragmentos



Quantas coisas pra pensar, tantas por fazer, outras pra esquecer...
Há um ponto em que nossa mente chega onde as palavras e os sentimentos se mesclam. Giram, unindo-se a pequenos fragmentos de infinitos sonhos incompletos, alguns perdidos, outros vazios. Ocorre enquanto uma versão perversa do nosso ser brinca sucintamente de nos tornarmos vulneráveis ante uma suave melodia, um simples suspiro, uma recordação, ante o menor sinal de agonia. Uma sucessão de palavras e prantos implora para fluírem de nossa boca, porém tudo se detém em nossa garganta. A respiração se torna mais lenta. Medo, opressão, saudade... Sentimos a necessidade de sofrer e de afundar-nos cada vez mais n’um imenso e profundo mar de tristeza, que vai se formando do nada. Mas quando finalmente percebemos, vemos que abrange mais que apenas um solitário canto de nossa morada. Começamos a vagar por recônditas ruas do nosso passado, paisagens escuras e sem fim, envoltos em olhares frios, olhares de rejeição, oportunidades jamais alcançadas, desejos e essências que tivemos e que nunca mais regressarão. Só nos restam momentos como este, onde nos encontramos vivendo de falsas ilusões, entre a barreira do real e o intangível, frente a obstáculos invisíveis e impenetráveis. Muros que nos encerram em algo parecido com uma bolha, tão resistente e ao mesmo tempo tão frágil que a qualquer momento pode se romper e ferir-nos ainda mais com seus fragmentos. Algo que nos faz clamar pela morte, num ultimo sinal de esperança, por que não há pior sofrimento do que estar vivo sem poder sentir. Não há pior agonia que viver com o desejo de fazer voar a imaginação com um disparo na cabeça. No entanto, sempre tivemos uma inclinação por alçar vôo, acreditando que ainda temos aquelas antigas asas da infância, sem perceber que se quebraram e se perderam em algum momento de nossas vidas. Saltar para o vazio faz nos lembrar que somos apenas humanos, às vezes chegamos tão alto que temos que aterrissar com a própria vida e livrar-nos dos anseios perdidos e submergidos entre nossas lágrimas, onde a honra se acaba e nos tornamos covardes, quando já não há mais solução para os problemas, e a vergonha é maior que nosso próprio orgulho e desejo de combater. Não resta mais nada, e em algumas circunstâncias compreendemos que o mundo sem a nossa existência seria muito melhor, que acabando com nosso desejo de pertencer a algum lugar, podemos fazer felizes as pessoas que sempre lastimamos. Essas não são palavras de uma heroína, são tão somente as palavras de uma covarde que teima em passar pelo mundo em silêncio, onde ninguém a perceba, mas, que teme que a vida siga seu rumo mesmo diante de sua insignificância, e admitir que existam pessoas felizes apenas pelo fato de que nunca a conheceu.
 
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